terça-feira, 14 de julho de 2009

‘O que seria da vida sem o condimento da loucura?’ O Édipo de Hugo Rodas.







‘Num repente tudo muda, se a sorte estava do seu lado agora está na contramão’, a canção cantada por Jocasta no fim da peça demonstra a conturbada relação entre algoz e vítima, até que ponto somos jogadores da vida, ou joguetes do destino?

A inteligência dessa livre adaptação também pode ser explicada pelo enxerto de diferentes trechos de autores como Platão, Shakespeare, Calderón de La Barca, Erasmo de Roterdam, Nietzsche e outros; a tragédia grega de Sófocles ‘Édipo, Rei’. A responsável pelo roteiro é Adriana Veloso, que nos palcos se torna a rainha Jocasta. Com 26 anos de carreira, o talento e o domínio de palco de Adriana chamam a atenção durante a peça. Assim como a atuação do paulista que há oito anos vive em Goiânia, o ator Tiago Benetti.

Édipo traz o peso inquestionável de um clássico do teatro, a saga do jovem que mata o pai e fica com a própria mãe até o momento que descobre tudo e fura os próprios olhos para não ver a loucura que cometeu, essa tragédia serviu de objeto de estudo para Freud construir sua famosa teoria do ‘Complexo de Édipo’.

A proposta parece ser somente uma, sacudir a platéia, e isso é feito em diversos momentos e principalmente quando os atores dialogam com ela, provocações são lançadas e questões intimidadoras conduzem a uma tensão tanto quanto a um ar cômico. Um cenário em vermelho surge de um breu completo e reafirma as tensões juntamente com a trilha sonora.

Numa sinestesia completa de sentimentos, a paixão parece só perder espaço quando a loucura fala mais alto.

Um recurso que vem sendo utilizado pelo teatro, ganha vez na peça, o tecido acrobático carrega o contemporâneo para a cena, a ilusão de que Édipo flutuava, assim como a possibilidade de marcações fortes deram o tom a peça.No fundo do palco uma cama com água incendeia por fora e dá vazão ao amor que parece queimar internamente as personagens .
A peça apresenta questionamentos pertinentes aos dias de hoje, ao tratar de crenças e verdades absolutas,e reconta com beleza uma trágica história. Contextualizar com a atualidade parece ser função da platéia que ao sair do teatro tem carga suficiente para isso.

Quem leva glória pela direção da peça que inaugura a Cia.Benedita de Teatro, é ninguém menos que Hugo Rodas, diretor, ator e professor nascido no Uruguai e que há 30 anos mora no Brasil. Aclamado como um dos mais talentosos e importantes diretores do seu tempo, Hugo utilizou de sua criatividade para marcações inusitadas e altamente teatrais. Esses são 55 minutos que merecem ser degustados.
Juliana Albuquerque

Crédito de fotos: Carolina Soares


Ficha técnica
Roteiro: Adriana Veloso
Direção: Hugo Rodas
Elenco: Adriana Veloso
Tiago Benetti
Coreografia em tecido: Tete Caetano
Figurino: Hugo Rodas
Iluminação: Hugo Rodas

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